Tipo Roberto Justus

domingo, 17 de agosto de 2008

A primeira entrevista

Não acredito que emprego vai me conseguir um milhão. Segue abaixo o porquê:

Tenho poucas habilidades e sou ciente disso. Não sou bonito, não sou rápido, não sei surfar. Sou tipo o oposto do John Locke na primeira temporada de Lost. Com essa mediocridade em mente, desenvolvi certa técnica em web design, flash, http, toda essa viadagem. E fui na cara e coragem na temida primeira entrevista de emprego. Queria surpreender, queria ser tipo o Will Smith naquele filme com o filho dele.

Me preparei, me arrumei, bolei umas frases. Eu tava com tudo, eu era o cara. “Isso aí, garotão! Você detona!” era o que eu falava ao me olhar no espelho. Cheguei no escritório do cara, eu já tinha mandando uns lances por e-mail pra ele, então não ia rolar nenhuma decepção com meu talento, tudo que eu tinha que fazer era sorrir e ser bacana.

Começou normal, “Quais teus planos?”, “Quais teus hobbies?”, “Você se vê trabalhando nesse meio em um futuro próximo?”, e eu respondendo tudo com um carisma ímpar, dicção perfeita, até que “Qual emprego você não queria ter?” fodeu tudo. Já me sentindo confortável, pensei “Opa, essa é minha deixa!” e larguei:
- Coveiro, hehe.
E lá estava ele, me encarando como um alce encara os faróis de um carro. Emendei uma resposta séria e torci pra que ele também não tivesse vontade de ser coveiro. As coisas estavam engrenando de novo quando ele pergunta:
- E aí Vinícius, você tem namorada? – meio estranho, certo? Mas bom, vai que o cara é tipo patrão amigão.
-Tenho, tenho sim!
-E você pretende ficar com ela por muito tempo? – E tudo que eu conseguia formular era “Ah inferno. Vou ter que chupar o pau desse cara”. Porém respondi que sim, que pretendia ficar muito tempo com a minha senhora, como vampiros ficam muito tempo com suas vampiras.

Três semanas depois veio a resposta na minha caixa do Hotmail: “Você conseguiu o emprego.” AE CARALHO COMPRA AQUELE QUEIJO EM BOLINHAS A GENTE TA RICO “. Logo que tivermos vaga.”

Filhodaputa.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Pra onde?

Eu tenho um sonho. Eu tenho um sonho e esse sonho é enriquecer, com suor e trabalho, nas custas dos outros, não importa. Eu quero enriquecer. Na primeira infância, eu tinha outras ambições, como ser um policial de patrulha/médico de U.T.I., pra balear os caras maus, salvar a vida dos caras bons. Cresci, quis ser programador de videogames, morar em Tókio, trabalhar 29 horas, ter um colapso nervoso, dar tiro nos caras bons, encher os caras maus de curativo. Hoje sou grande e aprendi que carreira e dedicação não levam a lugar nenhum, hoje eu só quero ser milionário. E é óbvio que isso pode acontecer sem a menor dedicação, lembra daquela novela que esquecem a maleta no táxi do cara? Sem bem que o cara tinha um taxi, né...taí, vou comprar um táxi e ficar rico. Mas enriquecer de verdade, do tipo que vai pra Santa Catarina no verão.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

24,30


24,30 é quanto eu tenho na minha carteira. 211,22 é quanto eu tenho tenho no banco - de saldo devedor. Recentemente fiz 20 anos e pensei "Agora eu sou um homem. Tenho que agir feito um." Depois de amassar uma lata de cerveja na minha cabeça, saquei que tinha que ir atrás do meu primeiro milhão. Primeiro emprego eu já tive. É uma pobreza. E eu não quero ficar atras de um negócio que a Veronica Costa oferece. Primeiro milhão é aonde tá a graça da conquista. E se até o Salgadinho do Katinguelê fez um milhão, eu também posso fazer. Ele perdeu depois, mas isso não tem como acontecer comigo. Eu não tenho um filho em cada bairro do subúrbio do Rio de Janeiro.

Analisei as possibilidades de atingir o primeiro milhão:

Se eu vender todos os meus pertences (tv, celular, dvd's, livros, cds's, gibis, computador e mobília), não consigo atingir mais que 2 mil reais. Juntando com os 24,30 que eu tenho na carteira, vão ficar faltando R$ 997973,70 para chegar a tão esperada quantia.

Na temporada final de Friends, o elenco principal do seriado recebia 1 milhão por episódio. Essa para mim é a solução mais rápida e dentro da lei. O único entrave é que eu não sou do elenco principal e a série já acabou há 4 anos.

Na temporada final de Seinfeld, o elenco principal... yada yada yada, há 10 anos.

5 gramas de pó custam 10 reais. Se eu for vender isso na universidade, posso triplicar o preço, já que elimino do consumidor o risco de subir o morro pra comprar. Entretanto yada yada yada, 12 anos em Bangu 1.

TV e tráfico de entorpecentes estão fora. Minha próxima idéia seria investir na bolsa de valores. Pensei em estudar o assunto, mas com 24,30, eu poderia no máximo tomar um café com pão de queijo na sede da Bovespa.

Pensei em GAMBLING. Ao contrário da bolsa de valores, apostar é algo que pode ser feito com o troco do pão. Algumas possibilidades de apostas:

Jogo do bicho: não sei fazer. Ao contrário do que vocês podem pensar, não é só falar "2 reais no macaco." Primeiro que vai soar meio racista, segundo que: já viu um canhoto de jogo do bicho? Não tá escrito "R$1,00 - Veado", mas sim um monte de números e letras cruzados. Muito complicado. Fora que meu avô joga no bicho há décadas e acabou indo morar com o amigo dele.

O amigo dele.

Mega-Sena: Jogo do governo, jogo simples. Escolhe 6 números e vai pra isso. But the question is this: já viu alguém ganhando na Mega-Sena?

Cavalos: não confio num bicho que transforma isso:



Nisso:


Poker: não sei jogar poker.

Poker online: não sei jogar poker online.

Poker por telefone: eu não acredito que isso exista...

E fora que dinheiro ganho em aposta é um dinheiro de susto, um dinheiro ao qual não se dá o devido valor. Você vê toda aquela quantia entrando na sua conta corrente, vê 211,22 reais dela sendo abatidos, vê que sobrou muito e aí acha que aquele dinheiro é infinito. Em 2 fins de semana de muita loucura em Guadalajara, aquilo já foi queimado. Ou então mesmo que você cuide bem do dinheiro, nunca vai ser plenamente feliz com ele. As pessoas sempre olham para você com desdém. Te chamam de "Novo rico", que é praticamente um "Nigger" para quem morava em São Gonçalo e foi pra Barra. E todo mundo te pede coisas, porque afinal de contas, você está em débito com o mundo inteiro, e tem mais é que ajudar os não-afortunados. É um karma.

Fora que minha mulher me proibiu de fazer apostas, de qualquer forma.

GET A FUCKIN' JOB - Isso é bom, isso é bom. Eu tenho duas atividades atualmente: o stand-up comedy e a Badalhoca Pictures. No primeiro, a gente vez por outra descola um troco, mas não nos apresentamos já há um bom tempo, então não é um dinheiro com que eu conto mesmo. No segundo, de vez em quando somos contratados pela Revista M... para fazer umas paradas. A idéia é que depois da M... surjam mais ofertas para trampos. A gente topa basicamente tudo. Não há integridade artística. Não há nem integridade.

O ponto é que pelo andar da carruagem, com esses dois vai demorar um bocado para eu atingir meu primeiro milhão. Quando eu tiver com uns 50 mil, vou ter que encomendar mais outros 200 anos de vida - pela terceira vez.

Então tenho que caçar um outro trabalho. Refiz meus passos no mercado, para ver tudo que eu sei fazer e que tipo de trabalho posso buscar:

Em 2005 trabalhei numa loja de roupas. Em 8 dias fui demitido. Aparentemente, eu fui contratado como temporário. Foi bem temporário mesmo. Me pergunto onde eu teria errado. Foi provavelmente no fato deu almoçar apenas 20 minutos por dia.

Explico: eu entrava no refeitório, almoçava, saí, batia o cartão que dizia que eu tinha entrado no almoço, voltava para o refeitório, mosquiava 20 minutos e saía fora. Isso fez com que eu recebesse quase o dobro do que receberia pelos 8 dias se tivesse batido o cartão da forma correta e indicado que meu almoço durou uma hora.

Bom, e isso deve ter feito meu temporário mais temporário ainda.

Honestamente, não vejo meu milhão saindo das lojas de departamento. Desconsidero a experiência.

Em 2007 fiz uns trabalhos de publicidade. Roteiros para rádio, tv, banners, o que viesse. Não é exatamente meu objetivo, mas levantou um dinheiro fácil e rápido, com algo nocivo. Tipo o tráfico. E era totalmente legal.

Embora não seja apaixonado, redação publicitária é um treco que eu sei fazer. Então é uma opção.

De 2007 a 2008 trabalhei numa agência de notícias que servia a um grande portal de notícias. Saí de lá porque eram todos idiotas. Ah, me desculpa, não foi o que eu quis dizer. Dizem para você nunca falar mal do patrão anterior, porque isso na verdade depõe contra você, faz você parecer um magrão falso, anti-ético. Os manuais de entrevista geralmente falam para você dizer que "havia uma incompatibilidade entre as expectativas da empresa e as minhas" ou qualquer eufemismo do tipo.

Então, havia uma incompatibilidade entre as expectativas da empresa e as minhas. As deles eram idiotas.

Aprendi bastante coisa fazendo e coloquei em prática algumas lições do curso de Jornalismo (acabei de começar o 4° período). Foi uma boa época, embora toda a estupidez que rolasse com a chefia.

O Jornalismo é uma opção aceitável. Vai ser difícil chegar no meu primeiro milhão através dele, mas já vou conseguir grana para investir em alguma coisa. E qualquer coisa é mais que R$24,30.

De 2005 para cá eu fiz umas coisas em comédia. Stand-up, artigos, vídeos, roteiros para curtas, etc, etc. Tenho orgulho de ter feito coisas criativas e tem sido divertido - mas pouco lucrativo. A meta é ficar envergonhado fazendo algo ruim e logo entrar em depressão - mas rico.

Basicamente foi isso.

Como essa corrida pelo primeiro milhão não é uma viagem louca, GET A FUCKIN' JOB é a melhor opção - por ora. É isso aí. A partir da próxima semana, vou analisar as chances que o mercado me oferece. Desde uma vaga na IBM até uma promoção de carne de primeira pela metade do preço. Tudo com muita infâmia. Se bobear, posto uma foto minha segurando um milho de tamanho avantajado.

E não estou sozinho na corrida. Chamei meu amigo Chini, de Muçum-RS, que também anda atrás de uma grana para me acompanhar nessa jornada. Ele topou o desafio. Quem vai chegar ao primeiro milhão? Eu ou o gaúcho? A resposta é óbvia: ninguém.

Não, péra, isso tá errado.